Antes principal aliado de Jair Bolsonaro, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), decidiu romper com o governo federal após o pronunciamento do presidente pedindo que comércios e escolas sejam reabertos. Ao GLOBO, Caiado, que e médico, criticou a declaração de Bolsonaro, disse ser um “aliado, não um subordinado”, afirmou que Bolsonaro não tem “autonomia” para dizer o que os governadore s devem fazer na área de saúde e que ninguém vai “desmoralizá-lo rasgando” seu decreto de governador ao pedir para população sair do isolamento devido à pandemia de coronavírus. Veja os trechos:
O senhor decidiu romper com o governo do presidente Jair Bolsonaro, por quê?
Na área de saúde eu sigo as decisões da OMS (Organização Mundial de Saúde), dos técnicos do Ministério da Saúde e da minha formação médica. Então, nessa área quem manda sou eu. Aqui, decisão de presidente não decide no meu estado, não. Não é nem questão de rompimento ou deixar de romper. O presidente não tem autonomia nessa área de saúde para deliberar sobre ela. Ele não tem poder para dizer amanhã o que o governador tem de fazer. Ele não é nenhuma autoridade na área sanitária. Ele não tem nenhuma formação para isso.
O senhor consegue entender a razão dessa decisão do presidente?
As pessoas não podem tratar um assunto tão sério como esse como se as consequências de um coronavírus amanhã, que é previsível o desemprego, a crise econômica agravando, como se isso fosse responsabilidade de A ou de B. Não tem porquê eu receber, conversar com o presidente — eu sempre fui aliado dele, nas horas mais difíceis, sempre, a vida toda, estive ao lado dele — para depois simplesmente ele mandar me comunicar por um texto que ele gravou e mandou para a televisão. Que tipo de aliado sou eu? Sou aliado, não sou subordinado de ninguém.
O presidente não procurou o senhor para se orientar sobre a melhor medida a se tomar?
Eu tentei por várias vezes marcar uma audiência com ele esses dias. Liguei no dia do aniversário dele. Claro, não qui s falar desse assunto no dia do aniversário. Mas todas as vezes eu me coloquei à disposição e disse ‘olha, presidente, esse assunto vai exigir de nós uma preocupação’. Mas nunca consegui marcar essa reunião. Agora, eu, na área de saúde, dos poucos os governadores que apoiam ele declaradamente, vou receber isso na minha área, me desmoralizando e rasgando meu decreto em Goiás? Ah, ele não faz isso comigo, não. Ele tá enganado. Ele confundiu educação com falta de coragem.